domingo, 31 de maio de 2009

O perfil da segunda oficina da TP 3, realizada em 18 de maio






Se compararmos a postura das cursistas nesta oficina com a primeira, já é possível notar um grande avanço. Percebi que todas estavam bem mais envolvidas com as discussões fomentadas pelo próprio roteiro da oficina. Um debate sobre o papel do professor em sala de aula ganhou espaço novamente. "No momento de propor uma atividade, levamos em conta o perfil sociocultural de nossos discentes?"
Iniciamos o encontro seguindo o roteiro sugerido na página 194, da TP 3. As cursistas, no momento de fazer críticas ao desenvolvimento do assunto (sequências tipológicas), foram unânimes em afirmar que o fragmento de Vidas Secas escolhido é muito complexo para distinguir uma sequência descritiva de uma narrativa. Por precaução, levei ao encontro outro trecho do mesmo livro, o qual, segundo elas, foi mais adequado ao tipo de atividade proposta. Leia-o a seguir:

Na planície avermelhada os juazeiros alargavam duas manchas verdes. Os infelizes tinham caminhado o dia inteiro, estavam cansados e famintos. Ordinariamente andavam pouco, mas como haviam repousado bastante na areia do rio seco, a viagem progredira bem três léguas.
Fazia horas que procuravam uma sombra. A folhagem dos juazeiros apareceu longe, através dos galhos pelados da caatinga rala.
Arrastaram-se para lá, devagar, Sinha Vitória com o filho mais novo escanchado no quarto e o baú de folha na cabeça, Fabiano sombrio, cambaio, o aió a tiracolo, a cuia pendurada numa correia presa ao cinturão, a espingarda de pederneira no ombro. O menino mais velho e a cachorra Baleia iam atrás. Os juazeiros aproximaram-se, recuaram, sumiram-se. O menino mais velho pôs-se a chorar, sentou-se no chão.
- Anda, condenado do diabo, gritou-lhe o pai.
Não obtendo resultado, fustigou-o com a bainha da faca de ponta. Mas o pequeno esperneou acuado, depois sossegou, deitou-se, fechou os olhos. Fabiano ainda lhe deu algumas pancadas e esperou que ele se levantasse. Como isto não acontecesse, espiou os quatro cantos, zangado, praguejando baixo.
A catinga estendia-se, de um vermelho indeciso salpicado de manchas brancas que eram ossadas.
O voo negro dos urubus fazia círculos altos em redor de bichos moribundos.
- Anda, excomungado.
O pirralho não se mexeu, e Fabiano desejou matá-lo.Tinha o coração grosso, queria responsabilizar alguém pela sua desgraça. A seca aparecia-lhe como um fato necessário, e a obstinação da criança irritava-o. Certamente esse obstáculo miúdo não era culpado, mas dificultava a marcha, e o vaqueiro precisava chegar, não sabia onde.
Tinham deixado os caminhos, cheios de espinho e seixos, fazia horas que pisavam a margem do rio, a lama seca e rachada que escaldava os pés.

O fragmento apresenta nitidamente sequências narrativas e descritivas, mas é esta que predomina, até porque Graciliano Ramos prioriza o panorama ambiental em que esses retirantes estão inseridos, andando a esmo. Ao longo do texto – podemos observar – são vários os momentos em que há uma preocupação em fazer com que o leitor crie uma imagem de um sertão marcado pela seca, a qual interfere gravemente no comportamento agressivo de Fabiano. A exemplo, notemos acima os trechos em negrito.

Quanto ao texto de Jô Soares, em que um grupo deveria enumerar argumentos para que o texto fosse considerado um exercício de redação escolar e o outro, justamente o contrário, obtivemos as mais curiosas formas de observar tais aspectos. Como complementação desta atividade, expus a minha forma de argumentar e contra-argumentar a respeito. Vejamos:

1. Argumentos levantados por mim para que o texto seja considerado um exercício de redação escolar.
· A expressão “Lá em casa” (8º parágrafo) é uma sugestão de que, pelo menos em casa, o menino não está. É possível então que ele, dentro do ambiente escolar, tenha sua casa como referencial.
· É inegável que o texto, embora com algumas falhas estruturais, passou pelo olhar de alguém experiente, possivelmente uma professora.
· Em casa, não é comum um familiar pedir para que uma criança faça uma redação. Isso é normalmente uma tarefa escolar.
2. Argumentos levantados por mim para que o texto não seja considerado um exercício de redação escolar.
· O texto, mesmo aparentemente corrigido, apresenta alguns problemas estruturais que certamente seriam percebidos por uma professora. Observemos a expressão inicial dos parágrafos 2, 3, 5 e 6: “Meu pai”. Além disso, onde a criança escreve “ai” (8º parágrafo) deveria ser “aí”.
· A linguagem do emissor mostra-nos que se trata de uma criança que, de acordo com as evidências do texto, apresenta mínima noção do que seja salário mínimo; portanto, é pouco provável que tenha sido uma tarefa escolar, até porque uma professora tem de levar em conta a mentalidade de quem escreve.
· Se fosse um exercício escolar, talvez ele não citasse duas vezes o nome de sua professora, já que é ela, a princípio, quem irá ler o seu texto.
Na quarta parte, destinada a observações sobre o desenvolvimento das oficinas, percebemos que as cursistas e até mesmo eu como formador temos dificuldades de entender alguns passos da oficina. Se isso não é um caso isolado, sugerimos apenas que nos próximos anos, caso esse projeto tenha continuidade, os livros de TP sejam mais precisos em seus objetivos. Fazemos aqui somente uma crítica construtiva.



Uma oficina dentro de outra oficina



Antes de encerrá-la, propus outra oficina, cujos métodos utilizados estão discriminados após o texto Circuito Fechado, de Ricardo Ramos, que poderemos ler abaixo:


Circuito Fechado (Ricardo Ramos)
Chinelos, vaso, descarga. Pia, sabonete. Água. Escova, creme dental, água, espuma, creme de barbear, pincel, espuma, gilete, água, cortina, sabonete, água fria, água quente, toalha. Creme para cabelo, pente. Cueca, camisa, abotoaduras, calça, meias, sapatos, telefone, agenda, copo com lápis, caneta, blocos de notas, espátula, pastas, caixa de entrada, de saída, vaso com plantas, quadros, papéis, cigarro, fósforo. Bandeja, xícara pequena. Cigarro e fósforo. Papéis, telefone, relatórios, cartas, notas, vales, cheques, memorandos, bilhetes, telefone, papéis. Relógio. Mesa, cavalete, cinzeiros, cadeiras, esboços de anúncios, fotos, cigarro, fósforo, bloco de papel, caneta, projetos de filmes, xícara, cartaz, lápis, cigarro, fósforo, quadro-negro, giz, papel. Mictório, pia, água. Táxi. Mesa, toalha, cadeiras, copos, pratos, talheres, garrafa, guardanapo. xícara. Maço de cigarros, caixa de fósforos. Escova de dentes, pasta, água. Mesa e poltrona, papéis, telefone, revista, copo de papel, cigarro, fósforo, telefone interno, gravata, paletó. Carteira, níqueis, documentos, caneta, chaves, lenço, relógio, maço de cigarros, caixa de fósforos. Jornal. Mesa, cadeiras, xícara e pires, prato, bule, talheres, guardanapos. Quadros. Pasta, carro. Cigarro, fósforo. Mesa e poltrona, cadeira, cinzeiro, papéis, externo, papéis, prova de anúncio, caneta e papel, relógio, papel, pasta, cigarro, fósforo, papel e caneta, telefone, caneta e papel, telefone, papéis, folheto, xícara, jornal, cigarro, fósforo, papel e caneta. Carro. Maço de cigarros, caixa de fósforos. Paletó, gravata. Poltrona, copo, revista. Quadros. Mesa, cadeiras, pratos, talheres, copos, guardanapos. Xícaras, cigarro e fósforo. Poltrona, livro. Cigarro e fósforo. Televisor, poltrona. Cigarro e fósforo. Abotoaduras, camisa, sapatos, meias, calça, cueca, pijama, espuma, água. Chinelos. Coberta, cama, travesseiro.


Proposta de trabalho sobre o texto acima:

1. Divisão das cursistas em três grupos;
2. Leitura e interpretação do texto;
3. Sorteio dos números 1. Descrição; 2. Narração. 3. Dissertação.
4. Grupo 1: criação de um perfil físico e psicológico da pessoa descrita em “Circuito Fechado"); grupo 2: narrativa da rotina dessa pessoa; grupo 3: análise do comportamento dessa mesma pessoa e suas consequências
5. Montagem do texto de acordo com as impressões dos três grupos.
Para encerrar a oficina, fizemos um debate a respeito do que seria letramento. O que cada cursista entendia sobre o assunto. Para isso, fiz a leitura de um texto que nossa orientadora Cida nos enviou, que é bastante conciso e cujo título é “Alfabetização e linguagem” na perspectiva de “alfabetizar letrando”.

Professora Nágela Calil de Freitas atuando na Oficina sobre Sequências Tipológicas


Professora Aparecida Morelli Fernandes aplicando sua oficina sobre Sequências Tipológicas



"Sociedade dos Poetas Mortos": Utópico ou verdadeiro?

Utópicos demais para uns, poético mas verdadeiro para outros, o filme Sociedade dos Poetas Mortos, que marcou o final da década de 80, é sempre uma ótima referência para uma discussão sobre as práticas pedagógicas de muitos docentes. As cenas selecionadas discutem metaforicamente o que de fato devemos despertar em nossos alunos quando o assunto é leitura e interpretação de texto.
Ao incentivar seus alunos a subirem na mesa, para que eles percebam por outro ângulo a realidade que os envolve e, além disso, pedir a todos que arranquem dos livros as páginas que “ensinam”, como uma fórmula matemática, o método “ideal” para se fazer poesia, o professor John Keating passa a ter problemas no colégio extremamente tradicional em que leciona literatura.
Vale a pena conferir e “reconferir” sempre.

Fragmento do filme "Sociedade dos Poetas Mortos", que foi o passo inicial para as discussões e propostas do Gestar II em Areal

terça-feira, 26 de maio de 2009

Outro Momento do Encontro Inaugural

Como formador, considerei pertinente conhecer um pouco a história de leitura de nossas cursistas bem como o modo como elas lidam com essa leitura em sala de aula. Aproveitei o momento para saber um pouco mais sobre sua prática pedagógica. Obtive apenas respostas de três delas. Abaixo temos na íntegra as perguntas e as respostas. É só acompanhar:
PROFESSORA CURSISTA NÁGELA CALIL DE FREITAS

Qual o seu grande momento como professora?
Sou recém-formada e este é o segundo ano que leciono. Espero que a minha profissão ofereça-me grandes momentos no futuro, mas, por enquanto, posso citar um teatro de fantoches apresentado no Ciep Vinte e Quatro de Novembro no ano passado. Eu trabalhei com os alunos durante um mês, adaptamos o texto, criamos o cenário e ensaiamos bastante. Senti que eles foram desenvolvendo a prática da leitura e perdendo o “medo” de falar em público, além de realizarem as atividades com muito prazer e vontade. Apresentamos a peça para os alunos da Educação Infantil à Etapa 2 da alfabetização( da nossa escola). Foi um sucesso!
Relate a sua história de leitura:
Comecei a ler aos seis anos por incentivo da minha mãe. Meu primeiro livro foi “O menino do dedo verde”, de Maurice Druon, que minha mãe começou a ler junto comigo e depois deixou que eu terminasse sozinha. Depois disso, não parei mais de ler. Aos 14 anos conheci Machado de Assis e fiquei encantada pela sua forma de usar as palavras. Conhecê-lo foi decisivo na minha vida.

Como tem sido a sua experiência com a leitura em sala de aula?
Percebo que muitos alunos não tiveram incentivo dos familiares em relação à leitura e também que a prática não foi cultivada nas séries iniciais do ensino fundamental. Esses fatores influenciaram na visão de leitura que eles possuem hoje. Apesar das dificuldades, tento incentivar e mostrar a leitura não só com mais uma tarefa da escola a ser cumprida, mas como uma fonte de conhecimento e entretenimento.

Comente uma situação em que um discurso seu foi mal interpretado:
Não me recordo de nenhum, mas isso certamente já aconteceu.

Como é a sua relação com os livros didáticos?
Eles são úteis e práticos, pois agilizam o trabalho na sala de aula. No entanto, muitos não são confiáveis e trazem um material desatualizado. Se não fosse a falta de recursos eu optaria por trabalhar sem eles.

De que forma você trabalha a leitura com seus alunos?
Quando vamos trabalhar um texto, normalmente faço uma pré-leitura com comentários sobre o assunto, peço que os alunos façam primeiro uma leitura silenciosa e depois lemos juntos. Também gosto de levar textos teatrais para incentivar a leitura dramática. Todo bimestre passo um conto ou um romance para cada aluno. Quando chega a data da entrega, cada aluno apresenta um trabalho escrito e nos sentamos para falar das histórias que eles leram.

Qual o conceito que a maioria de seus alunos tem sobre aula?
A maioria deles pensa que aula significa “quadro e giz”. Uma vez fiz uma dinâmica de mímica para conceituar “linguagem verbal e linguagem não-verbal” e um aluno perguntou: - Professora, você não vai dar aula?

Pense na proposta de um trabalho interdisciplinar:
Depende do conceito de interdisciplinaridade, pois há muitas divergências sobre esse assunto. Se for um trabalho interdisciplinar no sentido em que o professor escolhe um tema e trabalha esse tema em seus diversos aspectos recorrendo a outras disciplinas, acho muito interessante e muito enriquecedor para o aluno e para o docente que trabalha dessa maneira. Entretanto, quando esse trabalho envolve outros professores ( de outras matérias), apesar de achar mais enriquecedor ainda, penso que é muito mais difícil de acontecer.
PROFESSORA CURSISTA SÔNIA LOBO
Qual o seu grande momento como professora?
O meu grande momento como professora é quando sinto o interesse e a participação dos alunos nas minhas aulas. Não há nada mais gratificante.

Relate a sua história de leitura:
Sempre gostei de ler, desde criança. Sempre fui muito incentivada pelos meus pais a ter hábito de leitura.

Como tem sido a sua experiência com a leitura em sala de aula?
Fico triste às vezes. Não sei o que fazer ao perceber o desinteresse dos alunos pela leitura. Demonstram a maioria deles que não possuem hábito de leitura e inclusive há alunos que não sabem ler. Se o aluno não sabe ler e não tem o interesse em aprender, logicamente também não sabe interpretar.

Comente uma situação em que um discurso seu foi mal interpretado:
Não tenho nenhum comentário a fazer, pois não me recordo de ter passado por situação desse tipo.

Como é a sua relação com os livros didáticos?
Em relação aos livros didáticos, acho que os mesmos não estão de acordo com o exigido. Há excesso de gramática, quando se diz que devemos aboli-la. Os textos, por serem imensos, tiram o incentivo dos alunos, visto que não possuem hábitos de leitura e também não conseguem se concentrar por muito tempo e assim, muitas vezes, não fazem interpretações.

De que forma você trabalha a leitura com seus alunos?
Primeiramente, eles fazem uma leitura silenciosa do texto. Leio o texto para eles, explicando cada parágrafo. Em seguida, o texto é novamente lido por determinados alunos.

Qual o conceito que a maioria de seus alunos tem sobre aula?
Para aqueles que, apesar de estarem ainda na 5ª série, mas que já têm um objetivo na vida, ou seja, ser médicos, advogados, professores, etc., acham que as aulas são importantes, pois, sem elas, eles não poderão ter um futuro melhor. Para os que não possuem um objetivo na vida, a melhor aula é a vaga.

Pense na proposta de um trabalho interdisciplinar:
Acho que trabalho interdisciplinar deve estar voltado para a realidade dos alunos. Assim, pensando em termos de Areal, que é o lugar onde eles vivem, a minha proposta de trabalho está voltada para o meio ambiente, que, apesar de ser tema já muito trabalho na escola, há uma necessidade muito grande de ser trabalhado cada vez mais, pois noto que muitas pessoas que vivem nesta localidade não possuem conhecimento ou fingem não conhecer nada a respeito de preservação ambiental. Fazem queimadas (inclusive na escola), cortam árvores e não plantam outras, jogam lixo em qualquer lugar, não separam os mesmos para que sejam reciclados, etc. Perante tais acontecimentos desagradáveis, os nossos alunos, se bem trabalhados, poderão ajudar muito o povo e o nosso planeta.
PROFESSORA CURSISTA MARIA APARECIDA MORELLI FERNANDES

Qual é o seu grande momento como professor?

No momento estou desafiando a mim mesma, tentando superar os obstáculos e provar que tenho capacidade. Meu período é de ansiedade e confiança para ver tudo dar certo no final.

Relate a sua história de leitura.

O primeiro livro que marcou a minha vida foi a cartilha. Com seis anos, no final do ano, lia “tudo” e meu pai me a cartilha para eu brincar de leitura. Adorava ler e reler as lições de que mais gostava. Comecei dando aulinhas, brincando em casa, num quadro de giz feito pelo meu pai, que me deu um livro que li e reli várias vezes: A Vaquinha Sabida, de Herberto Salles. Na lª série meu pai comprou o livro didático solicitado na lista escolar. No começo amei, só porque nele era incluída a narrativa das história da Chapeuzinho Vermelho. Ele era todo ilustrado. Quando comecei a estudar nele já não gostei muito porque era matemática ( matéria com a qual comecei a não me identificar muito. Gostava mais de Ciências e Língua Portuguesa. Ensino Religioso também era ótimo). Enfim, não tinha muito o hábito de ler, mas gostava. Tomei mais o gosto e readquiri o hábito de leitura na faculdade de letras. As obras, autores, materiais interessantíssimos, filmes, etc... me fascinavam. O marco foi: O Preconceito Lingüístico, o que é, como se faz – Marcos Bagno. Tenho hoje a honra e orgulho de dizer que já estudei sobre a teoria ou pelo menos já ouvi falar de grandes mestre como: Marcos Bagno, Magda Soares. Saussure, Evanildo Bechara, Bakhtin, etc.
Como tem sido a sua experiência com a leitura em sala de aula?

Um desafio, pois lido com alunos que não têm o hábito ou não gostam de ler. A cada dia tenho que buscar recursos para tal propósito. Alguns alunos já entenderam meu objetivo, adoram as minhas aulas, mas isso não é tudo.

Comente uma situação em que você percebeu que um discurso seu foi mal interpretada em sala de aula.

Foi quando levei um poema de Drummond para análise: As Sem-Razões do Amor. Um aluno disse que não gostava de poemas de amor de Drummond e que eu tinha que levar alguma coisa interessante que não fosse principalmente poemas de amor-paixão, sendo que ele confundiu as coisas. O poema fala do amor de forma universal. Tive que conversar com ele que continuou na ignorância e continua ainda não gostando de nada.

Como é a sua relação com os livros didáticos?

Como meu trabalho é na biblioteca, não tenho contato direto com livros didáticos, mas na minha opinião são importantes, já nenhum é perfeitamente completo e também não deve ser “seguido como uma bíblia”. O complemento é o esforço e o trabalho do próprio professor de acordo com as necessidades dos alunos.

De que forma você trabalha a leitura com seus alunos?
Com gêneros textuais diversos e também várias atividades relacionadas aos mesmos.

Qual o conceito que a maioria de seus alunos tem sobre aula?
Infelizmente aula para eles é você chegar em sala, explicar (pouco) a matéria, dar dever no quadro, corrigir, aplicar prova sobre a matéria e pronto. Quando chego com coisa diferente a maioria acha difícil entender e realizar atividades fora do tradicional.

Pense na proposta de um trabalho interdisciplinar:

Trabalhando a música Terra, Planeta água, por exemplo, pode-se com a letra trabalhar língua portuguesa, fazer projeto em ciências, trabalhar conteúdos de geografia. Em matemática trabalhar população em forma de quantidade, gráficos, medidas, grandezas, proporções, etc.






segunda-feira, 18 de maio de 2009

Proposta feita a partir das fábulas "A Formiga Boa" e "A Formiga Má"

Texto coletivo – V Fase – Em 06/05/2009, sob orientação da professora Eny - CIEP 429
Já que havia o poema da Formiga Má, vamos criar um para a Formiga Boa?

A Cigarra e a Formiga
Numa bela árvore à tardinha
A cigarra vivia a cantar
As formiguinhas incomodadas
Começaram a implicar

Logo o inverno chegou
E a neve foi caindo
As formigas se recolheram
E a cigarra ficou sozinha

Sem casa para morar
Bateu na casa da amiguinha
A vizinha boazinha
Acolheu a coleguinha

Dando casa e comida
Pra cigarra pobrezinha
A cigarra fez serenata
E até dançaram forrozinho

Professora Ana Beatriz realizando sua primeira oficina do "Avançando na Prática"


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sábado, 16 de maio de 2009

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O Perfil da Primeira Oficina

É você que ama o passado
e que não vê
que o novo sempre vem...
Belchior
Nossa primeira oficina ocorreu no dia 08 de maio e contou com a participação de todos as professoras inscritas no programa. Como formador, tive a oportunidade de auxiliar o trabalho das cursistas e de assistir, em sala de aula, ao desenrolar das atividades escolhidas por elas na TP 3. A receptividade dos alunos foi muito interessante. Só o fato de ter sido proposta uma atividade que fugisse ao conteúdo previsível do livro didático foi suficiente para criar nelas uma grande expectativa. Minha orientação a todas foi que, independente desta ou daquela atividade proposta, não abandonassem o tema motivador “trabalho”, bem como não deixassem de adequá-lo à realidade sociocultural desses alunos.
A princípio, algumas cursistas não se sentiram muito à vontade para desenvolver o “Avançando na Prática”, já que até então a proposta era novidade para todos nós. Meu maior cuidado foi lembrá-las sempre de que eu, na condição de formador, também estava iniciando algo novo e que, acima de tudo, eu também era professor, que estava ali apenas como um multiplicador das informações obtidas no curso de formação do Gestar II. A partir daí, tudo passou a fluir naturalmente.
Na primeira parte da oficina proposta na página 191 da TP 3, que está reservada para comentários e sugestões, foi possível observar, no discurso das cursistas, a unanimidade no que se refere a uma nova postura pedagógica: o estudo da gramática e de suas nomenclaturas não garante a nenhum estudante o aprimoramento da produção textual, assim como não resolve as deficiências encontradas no momento da análise de textos; portanto, o livro didático não deve ser mais o único instrumento oferecido para o enriquecimento intelectual de nossos alunos. Segundo elas, não podemos mais viver no passado, em que o texto é tão somente pretexto para a elaboração de uma prova que procura saber de nossos discentes a função morfossintática deste ou daquele termo.
A segunda parte da oficina, referente ao relato de experiências, foi mais descontraída, até porque as cursistas entenderam que o momento era de relatar não só o que deu certo no “Avançando na Prática”, mas também os pontos negativos a que todos estamos sujeitos constantemente em sala de aula. Conforme se vê na íntegra dos relatórios postados em outro momento e de acordo com o que me expuseram verbalmente, algumas cursistas tiveram dificuldade de inserir a atividade escolhida ao tema motivador “trabalho”. Nesse sentido, reforcei a necessidade de não darmos uma aula sem um propósito maior, isto é, sem a devida contextualização. Tal processo situacional tem despertado consideravelmente o interesse dos alunos pelas aulas. A exemplo, cito uma passagem do relatório da professora-cursista Nágela, ao trabalhar a intertextualidade com base na fábula A cigarra e a formiga: "!A maior polêmica da oficina ficou em torno das profissões que podem ser comparadas à profissão da cigarra. Muitos educandos afirmaram não considerar jogadores de futebol, cantores, poetas e até professores de educação infantil como trabalhadores", comenta a professora.
No terceiro segmento da oficina, que tem como base o texto Poema retirado de uma notícia de jornal, de Manuel Bandeira, e a letra da canção Bom dia, de Gilberto Gil, a qual foi ouvida por todos, fizemos um trabalho de intertextualidade que visava a uma análise estilística de ambos os textos. Como complementação desse processo intertextual, ouvimos também a música Construção, de Chico Buarque, a fim de buscar semelhanças entre os trabalhadores enfocados em cada um dos textos. Curiosamente, foram várias as formas de interpretar o título da música de Chico: para muitas, "Construção" é intencionalmente ambíguo, uma vez que, além de sugerir o ofício do operário que constrói prédios, o processo de gradação verbal que o texto apresenta nos leva a concluir que, ao longo de sua estrutura, elabora-se também a construção da própria morte desse operário da construção civil, que cai do prédio e ainda atrapalha a rotina das outras pessoas. Em síntese, estamos diante de um texto que denuncia o descaso com os trabalhadores que não fazem parte da elite.
Na penúltima parte da oficina, sugeri às cursistas que mantivessem o tema motivador e que, mesmo já tendo partido para as unidades 11 e 12, não deixassem de trabalhar com seus alunos os gêneros textuais, já que, na unidade 12, eles se mesclam aos tipos textuais. É importante, neste momento, estabelecer diferenças, para que os alunos não os confundam com o passar do tempo. Finalizando a oficina, chegamos à conclusão de que uma leitura ativa é aquela que possibilita várias formas de observação da realidade. Estamos vivendo um momento de resgate da Educação brasileira; portanto, uma leitura descontextualizada em sala de aula é apenas uma prática pedagógica perdida.

Cena do filme "Central do Brasil" como uma das propostas para a Oficina Inaugural

Implementação do Gestar II em Areal - RJ

A Oficina Inaugural do Gestar II, em Areal, na área de Língua Portuguesa, ocorreu juntamente com a área de Matemática, no dia 25 de março, e contou com a presença da Secretária Municipal de Educação, além de alguns orientadores pedagógicos. Na ocasião, apresentamos aos cursistas o material, cuja qualidade todos reconheceram
No entanto, a adesão de todos os professores não foi possível, uma vez que alguns não conseguiram a liberação de suas escolas estaduais ou particulares. Aderiram ao curso 8 professoras, um número bastante significativo para um município pequeno como o nosso.
Com o propósito de tornar mais fácil a participação das referidas cursistas, nossas oficinas obedecerão ao um rodízio, no que se refere aos dias da semana, a fim de que as escolas não fiquem sem suas respectivas professoras sempre nos mesmos dias. Dessa forma, ficaram assim distribuídas:
PRIMEIRA OFICINA: DIA 08/05 – SEXTA-FEIRA, ÀS 13h30.
SEGUNDA OFICINA: DIA 18/05 – SEGUNDA-FEIRA, ÀS 13h30
TERCEIRA OFICINA: DIA 26/05 – TERÇA-FEIRA, ÀS 13h30
QUARTA OFICINA: DIA 10/06 – QUARTA-FEIRA, ÀS 13h30
QUINTAA OFICINA: 25/06 – QUINTA-FEIRA, ÀS 13h30
SEXTA OFICINA: 03/07 – SEXTA-FEIRA, ÀS 13h30
Vale ressaltar que, nesse primeiro encontro, foram exibidos 2 vídeos, como forma de iniciar uma discussão sobre o que é importante ensinar a nossos discentes, para que eles possam ter maior autonomia no momento da leitura e da produção de texto. O primeiro vídeo diz respeito a uma cena do filme Central do Brasil, em que Dora, personagem de Fernanda Montenegro, ganha dinheiro escrevendo cartas aos familiares dos que transitam diariamente pela estação de trem; o segundo, é a clássica cena do filme Sociedade dos Poetas Mortos, em que o professor John Keating induz seus alunos a subirem em suas mesas, para que possam observar, por outro ângulo, o que está a sua volta. A cena é, indiscutivelmente, uma bela metáfora, a qual muito contribuiu para despertar o interesse das cursistas pelo programa. A fala de todas as professoras presentes deixou latente que o fato de sermos professores não nos faz donos da verdade.
Em breve ambos os vídeos estarão postados no Blog.

Gestar II - Início das Oficinas nos municípios fluminenses

No município de Areal, a adesão ao programa foi satisfatória, criando grandes expectativas nos cursistas. Todos perceberam que uma mudança em nossa prática pedagógica é imprescindível. Ainda há meios de salvar a Educação brasileira.

Memorial de Marcelo Monteiro – Formador do Gestar II pelo Município de Areal - RJ

Minha história de leitura
Sou Marcelo Bandeira Monteiro, nascido em Belém do Pará, mas moro no estado do Rio de Janeiro há 18 anos, residindo atualmente em Itaipava, distrito de Petrópolis. Sou graduado em Letras e pós-graduado pela UCAM, no curso intitulado Literaturas Contemporâneas de Expressão Portuguesa, o qual expandiu meus caminhos literários e me proporcionou outras formas de observar um texto.Minha trajetória de leitura inicia-se na adolescência, quando, por indicação dos professores do antigo ginásio, lia O Escaravelho do Diabo, A Ilha Perdia, O Menino de Asas, entre outros da coleção Vagalume, numa época em que os professores preocupavam-se apenas com a ficha técnica dos livros que líamos, como se isso fosse suficiente para entendermos a leitura. No decorrer desse período escolar, do qual não me orgulho nem um pouco, o processo de leitura passou de indicação a obrigação, o que significava ter os primeiros contatos com livros de José de Alencar, numa linguagem que não entendíamos. Isso foi o suficiente para que eu passasse a odiá-lo por um bom tempo. Já no ensino médio, antigo científico, para “destraumatizar”, tornei-me um leitor assíduo da obra policial de Agatha Christie. Lia uma média de 4 livros da autora mensalmente, o que, sem dúvida, me estimulou a obter uma melhor produção de texto. Passei a tornar-me exigente no momento de escrever e, a partir daí, veio a necessidade de ser um profissional das letras, o que, a princípio, significava aspirar a uma carreira jornalística. No entanto, a região onde eu morava, na época de faculdade, não me permitiu esse propósito, e não me restava alternativa no campo das letras senão me tornar professor de língua portuguesa. Hoje, com uma matrícula no Estado e outra no Município, percebo que trilhei o caminho correto. Faço com meus alunos o que não fizeram comigo: leio juntamente com eles e os estimulo constantemente a perceber o que está latente nos textos de nossas rodas de leitura. Nos poucos finais de semana livres de que disponho, assisto a filmes e a peças de teatro, e procuro ler e reler os livros de Machado de Assis, já que ele é o foco para um futuro mestrado.
Hoje não leio mais Agatha Christie, até porque os tempos são outros e tenho a sorte de ser brasileiro tanto quanto o escritor que nasceu no morro do Livramento. Machado de Assis passou a representar na minha vida literária o que há de mais importante, principalmente após ter terminado minha Especialização. Que Eça de Queirós me perdoe, mas o Bruxo do Cosme Velho vai além de qualquer expectativa e mantém o espírito de suas obras sempre atual, o que me levou, em 2008, a desenvolver um projeto sobre ele em uma feira de conhecimentos, realiazada pela minha escola estadual. O que lucrei com tudo isso? Meus alunos hoje leem Machado sem que eu lhes peça para fazê-lo. Isso já me realiza como professor.
Marcelo Bandeira Monteiro