quarta-feira, 24 de junho de 2009

O Perfil da Quarta Oficina - Letramento


Chega mais perto e contempla as palavras.
Cada uma
tem mil faces secretas sob a face neutra
e te pergunta, sem interesse pela resposta,
pobre ou terrível, que lhe deres:
Trouxeste a chave?

Carlos Drummond de Andrade. Procura da Poesia.

Quarta Oficina – 09 de junho, às 13h 30 – TP 4, p. 219

Na primeira parte da oficina, discutimos a qualidade do material oferecido pelo Gestar, o qual demonstra uma grande preocupação em dar ao aluno autonomia no momento de ler ou escrever. Inegavelmente, a TP 4, ao propor atividades relacionadas a letramento, sinaliza-nos que seu conteúdo é um grande referencial para a elaboração do projeto interdisciplinar que iremos desenvolver ao longo do ano letivo vigente. Aproveitamos esse momento para falar um pouco mais sobre ele, que ainda é motivo de muitas dúvidas, inclusive minhas. Nem tudo eu pude explicar a elas. Consequentemente, esse assunto tomou conta do pouco tempo que ainda nos restava.
No relato das cursitas – segunda parte da oficina –, todas expuseram a metodologia utilizada para desenvolver o Avançando na Prática, de acordo com o que é sugerido na p. 129 – TP 4. No entanto, foi um relato sucinto e difícil, já que exigia sobretudo imparcialidade. Deixei claro que são os alunos que precisam lucrar com os nossos esforços. Eles são o alvo de nossas discussões nas oficinas. Por essa razão, solicitei a elas que deixassem de lado as relações de amizade e expusessem, sem constrangimentos, o planejamento de aula proposto no roteiro da oficina.
A terceira parte do encontro acabou não acontecendo. O tempo que dispensamos para falar sobre o projeto e sobre o referencial teórico não permitiu a continuidade do que era proposto na p. 129. Demos então prioridade ao esboço do projeto e me pus à disposição para auxiliá-las nesse processo. Cada uma delas, de acordo com o que combinamos, poderá contar com uma manhã ou uma tarde minhas para a realização desse esboço. De antemão, sugeri a leitura de algumas referências bibliográficas da própria TP 4.
A seguir, podemos observar algumas atividades desenvolvidas no Avançando na Prática:

Professora Nágela Callil aplicando o Avançando na Prática - TP 4, p. 124 - "Admirável Mundo Louco" (Ruth Rocha)




Trabalhos interessantes realizados respectivamente pelas Professoras Maria Aparecida e Ana Beatriz - TP 4 - Avançando na Prática, p. 194





Os Cartões postais desenvolvidos pela professora Maria Aparecida referem-se a uma atividade proposta na p. 188.





segunda-feira, 8 de junho de 2009


Os verdadeiros analfabetos são aqueles que aprenderam a ler e não leem.
Mário Quintana
O Perfil da Terceira Oficina, realizada em 26 de maio

Embora o Governador Sérgio Cabral estivesse em nossa cidade, o que nos causou alguns transtornos para a realização do encontro, sobrevivemos a mais uma oficina, apesar da ausência de três cursitas. Acredito que isso tenha sido um dos motivos da timidez de algumas professoras presentes, no momento em que iniciamos a discussão sugerida na oficina. Ao começarmos um debate sobre a questão do letramento, poucas se manifestaram. É possível também que isso tenha ocorrido em função de este assunto ainda ser muito novo para todos nós. Quando pensamos que já sabemos tudo a respeito, deparamo-nos com a fala de outros especialistas que nos mostram a sua complexidade. A própria TP 4, em sua proposta de atividades, já nos confirma que letramento é, segundo Bonaccorsi Barbato, um processo ensino-aprendizado que busca as questões culturais, as situações sociocomunicativas variadas e a necessidade de interação entre o conhecimento trazido por cada aluno(conhecimento prévio) e o conhecimento novo apresentado na escola e em outros lugares em que aprendemos a ler o mundo. Em resumo, é um processo longo que exige uma mudança em nossas práticas, para as quais nem sempre estamos bem preparados.
Quanto ao momento de avaliarmos o próprio material do Gestar, surgiram críticas, nem tanto ao material em si, mas ao pouco tempo que temos para um estudo mais aprofundado das TPs, já que o espaço entre uma oficina e outra é muito curto. Ou seja, são muitas propostas de atividades para um tempo cada vez menor, até porque o fim do primeiro semestre aproxima-se cada vez mais. O grupo responsável pela elaboração dessas TPs talvez não leve em conta que, dentro e fora do ambiente escolar, temos provas e trabalhos para elaborar e corrigir, e os exaustivos diários para fechar. Não obstante, estamos lidando com um material de qualidade, que só não chega à excelência em função de alguns descuidos com a gramática; afinal, o alvo, a princípio, são professores de português. A exemplo, observemos os diferentes ambiente letrados (p. 30, TP 4); um ponto e vírgula no final p. da 102 – TP 3); a ordem em que se enuncia os fatos (p. 105 – TP 3).
A proposta de trabalho com o texto Cidadezinha qualquer, de Carlos Drummond de Andrade, foi mais uma prova de que o tempo tem sido nosso grande inimigo no momento de pôr em prática esta ou aquela oficina. Curiosamente, nenhuma das cursistas conseguiu tempo hábil para realizar o trabalho em questão. Por precaução, acabei por desenvolvê-lo com duas turmas de 7ª série nas quais leciono. E, antes de fazer observações sobre o desempenho das cursistas nesse momento da oficina, acho pertinente comentar a minha experiência com o texto de nosso grande poeta mineiro:
Primeiramente, fiz a leitura do texto de Drummond às turmas e propus em seguida uma análise do poema, utilizando-me da própria sugestão de roteiro da TP 4. O resultado foi surpreendente, até porque alguns alunos levantaram aspectos do texto, sem a minha interferência, tais como: a possibilidade de esta cidade ser a própria Itabira de Drummond e a prosopopeia que ocorre em “as janelas olham”. Após esse momento muito proveitoso, principalmente para os “bagunceiros”, os alunos foram convidados a ouvir três músicas que enfocam a cidade do Rio de Janeiro. Já que Cidadezinha qualquer é o retrato de uma cidade rural, a proposta agora seria uma cidade essencialmente urbana como o Rio de Janeiro, onde Drummond vivera por longo tempo.
As músicas foram, na sequência, Rio 40 Graus, que apresenta uma visão realista e bastante negativa da cidade. Observemos um trecho:
Rio 40 graus
Cidade maravilha
Purgatório da beleza
E do caos...
Capital do sangue quente
Do BrasilCapital do sangue quente
Do melhor e do pior
Do Brasil...
Cidade sangue quente
Maravilha mutante...
O Rio é uma cidade
De cidades misturadas
O Rio é uma cidade
De cidades camufladas
Com governos misturados
Camuflados, paralelos
Sorrateiros
Ocultando comandos...

Como contraponto, nossos alunos puderam ouvir o clássico Cidade Maravilhosa e um samba-enredo da GRES Tradição de 1989. Em ambas as músicas, há uma exaltação ao Rio de Janeiro. Vejamos:

Cidade Maravilhosa cheia de encantos mil
Cidade Maravilhosa coração do meu Brasil
Cidade Maravilhosa cheia de encantos mil
Cidade Maravilhosa coração do meu Brasil
Berço do samba e das lindas canções
que vivem na alma da gente
és o altar dos nossos corações
que cantam alegremente
(...)

GRES Tradição(1989)

Rio de Janeiro
Salve São Sebastião
Santo padroeiro
Samba, amor e Tradição
Esquece a tristeza
Que é hora do Rio cantar
Com tanta beleza
A gente não pode chorar
É na PassarelaÉ na Cinelândia
A Tribuna Popular
Quero da Vista Chinesa
Ver a natureza se descortinar
Quero outra vez ver meu time
Fazendo esse meu Maracanã vibrar
Copacabana é princesinha a vida inteira
A capital do samba ainda é Madureira
Em Paquetá tem flores
Ilha dos meus amores
Que lembra o amor do Imperador pela marquesa
Lá nos jardins do bairro imperial
(...)
Mais um vez fui surpreendido, já que alguns alunos, ao fazerem a análise das três músicas propostas, conseguiram perceber esse contraponto. Dando continuidade, dividi a turma em grupos, a fim de que cada um deles produzisse dois textos: no primeiro, eles deveriam retomar o texto Cidadezinha qualquer e, mantendo a mesma estrutura poética, fazer uma nova versão do poema sob o olhar da cidade grande, isto é, como se essa cidade fosse o Rio de Janeiro; no segundo texto, os grupos deveriam descrever o perfil de uma cidade ideal. A seguir, temos alguns desses textos:

A propósito do texto de Drummond:

Cidade do Caos

Casas entre becos
mulheres nas esquinas
fumar roubar matar
O homem a se drogar.
A mulher vai se vender.
As crianças a trabalhar.
Nas favelas a pobreza vai aumentar.

Que vida cruel, meu Deus.
Ana Carolina, Samantha, Verônica e Willian (turma 701)

Cidade Bonita

Casas entre prédios
mulheres nas praias
felicidade amor e paz

Um homem vai nadar.
Um cachorro vai passear.
Um pássaro vai voar.
Devagar os carros andam.

Eta cidade tão boa, meu Deus.
Renan, Yuri e Lucas (turma (701)

Cidade grande perigosa

Casas entre prédios
mulheres entre carros
morte violência tristezas.

Uma pessoa anda com medo.
Ninguém vai devagar.
Uma vida vai depressa.
Devagar os inocentes olham.

Que cidade violenta, meu Deus.

Philipe, Marcelo e Silvani (turma 701)

Cidade caótica

Viadutos entre prédios
mulheres entre traficantes
bandidos entre o povo

O tráfico aumenta depressa.
A prostituição aumenta.
A ambição aumenta.
Ninguém sai de casa.

Eta vida triste, meu Senhor.
Alecsander e Maicon (turma 701)
A propósito do perfil de uma cidade ideal:

Cidade dos meus sonhos

Cidades bem simples, com escolas para todos, trabalho de montão. Pequenos apartamentos, casas bem simples e ninguém morando na rua. Igualdade é o essencial.
Amanda, Débora Máximo e Jéssica (turma 702)

A cidade dos meus sonhos
A cidade dos meus sonhos seria calma, tranquila, sem roubos, sem assaltos, tráfico etc. Teria pessoas honestas, trabalhadoras, felizes e simpáticas. Teria hospitais decentes, postos de saúde que funcionassem todos os dias, policiais de verdade, não corruptos. A polícia seria honesta e segura e levaria lei ao pé da letra.
Thiago, Hugo e Lucas Afonso (turma 702)

Como vemos, a maioria dos textos apresenta uma preocupação com a falta de segurança. Isso demonstra que, embora o Rio de Janeiro não seja a cidade deles, a violência urbana já afeta consideravelmente o lugar em que moram. Esse tipo de atividade permite que conheçamos melhor o público com o qual trabalhamos. Além disso, propostas dessa natureza são a evidência de que, quando o processo de leitura e de produção de texto está relacionado à realidade sociocultural de nossos alunos, despertamos neles a necessidade de ler, de escrever e de interpretar o mundo em que estão inseridos. Esse é, certamente, o objetivo maior do Gestar II.
Quanto à terceira parte da oficina, referente à interpretação de texto e formulação de perguntas de interpretação para as turmas de 3º e 4º ciclos, nossas cursistas foram dividas em dois grupos e ambos tomaram por base a minha proposta de trabalho que eu havia apresentado minutos antes. Observemos então os tópicos explorados na formulação de perguntas de cada um dos grupos:

Professoras cursistas Dilma e Quívia:

O autor / biografia / diferença entre poesia e poema / algum bairro local que se assemelhe à cidade do poema / transformação do poema: da visão rural à urbana / a possibilidade de alguns alunos se identificarem com o tipo de vida retratado no poema de Drummond / exploração da gramática: identificação de verbos / a repetição de “vai devagar” sugerindo “vida pacata” / interpretação do último verso: “Eta vida besta, meu Deus”.

Professoras cursistas Sônia, Ana Beatriz e Maria Aparecida:

Leitura e reflexão do poema / noção de trabalho: as profissões nas cidades pequenas / confecção de cartazes

Observações: minhas sugestões ao primeiro grupo foram de caráter gramatical, que, no poema em questão, não pode passar despercebido, já que a própria estrutura do título é rica em possibilidade de interpretação. Ressaltei o que discutimos muito em Niterói: um texto não pode ser apenas pretexto para se trabalhar gramática. O segundo grupo teve uma preocupação mais filosófica do que estrutural. Ressaltei que ambas as propostas são válidas, já que uma completa a outra. No entanto, sendo um texto que nos permite trabalhar as sequências tipológicas discutidas na TP anterior, perdemos aí uma grande oportunidade de trabalhá-las como reforço.
A seguir, temos alguns momentos do Avançando na Prática relacionados à terceira oficina.

Minha Oficina sobre "Cidadezinha Qualquer" (Foi divertida!)


Trabalhos da professora Ana Beatriz com uma turma do EJA - TP 4 - p. 41- Parte I- Os trabalhos publicados aqui não sofreram nenhum tipo de alteração











Trabalhos da professora Ana Beatriz com uma turma do EJA - TP 4 - p. 41 - Parte II- Os trabalhos publicados aqui não sofreram nenhum tipo de alteração



































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