quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

O PERFIL DA DÉCIMA OFICINA, REALIZADA NO DIA 16 DE NOVEMBRO DE 2009 - TP 1


Intertextualidade

Poema de sete faces
Quando nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombra disse:
Vai, Carlos! ser gauche na vida.
Drummond

Até o Fim
Quando nasci veio um anjo safado
O chato do querubim
E decretou que eu estava predestinado
A ser errado assim
Já de saída a minha estrada entortou
Mas vou até o fim
Chico Buarque

Fizemos, ao início da oficina, o que é de praxe: a entrega dos relatórios bem como as discussões sobre o que foi desenvolvido no Avançando na Prática. Desse momento só duas cursistas puderam participar, já que as demais colegas não conseguiram aplicar nenhuma das atividades propostas. Elas alegaram um calendário meio sufocante na reta final do ano letivo, e sou obrigado a concordar com elas. A burocracia tem-nos sido um grande empecilho também.
A professora Aparecida trabalhou o Avançando na Prática da p. 65, referente ao Menino Maluquinho.Observemos a seguir alguns trabalhos desenvolvidos por ela, que tratam do problema da separação conjugal:



Pô, cara, vou te mandar uma real: to só no planeta. Minha mãe e meu velho tivero uma briga muito feia. Pô, arrumaram o maior barraco dentro de casa. Pô, aí eu tive que chamar até a polícia. Para tu sentir na pele, minha mãe queria dar tiros para cima do meu velho. Mas acabou cada um indo para o seu canto. Mas ainda tem muita briga pela frente. Vou morar com quem miquer.

Vale ressaltar que a referida professora trabalhou também a atividade da p. 136, que aborda os vários falares (dos “mais velhos” da família, ou até da comunidade). Segundo ela, foi um resultado surpreendente para os próprios alunos, já que eles puderam comparar o falar coloquial de sua geração com o falar de pessoas de gerações distantes da deles. A professora Nágela, por sua vez, trabalhou o Avançando na Prática correspondente à p. 144, que trata da intertextualidade, assunto que será retomado a seguir. Ela nos conta que teve de readaptar a fábula da Raposa e as Uvas porque seus alunos já conheciam aquele versão, o que poderia torná-los desinteressados diante de uma proposta que envolvia a intertextualidade. Observemos a seguir o seu depoimento:


(...) Para a realização do trabalho, utilizou-se o Avançando na prática da página 144 da TP1, cujo tema é a intertextualidade.
A oficina iniciou-se com a distribuição da fábula A raposa e as uvas de Millôr Fernandes, a qual foi lida, primeiro silenciosamente, e depois pela docente. Após a leitura, foi feita uma interpretação do texto com algumas perguntas que os estudantes responderam oralmente. Em seguida, os discentes foram interpelados a respeito da semelhança do texto em questão com algum outro que já houvessem lido. Eles prontamente recordaram-se da fábula A raposa e as uvas de autoria de Esopo, porém afirmaram que notaram uma diferença quanto ao desfecho e quanto à moral da história.
O texto de Esopo foi distribuído para turma e a intertextualidade entre as histórias foi explorada. A única dificuldade apresentada pela turma foi no momento de reduzir a uma palavra o comportamento da raposa do texto 1 e a raposa do texto 2.
Após interpretarem as fábulas, os educandos foram instigados a escrever uma versão própria para a história da raposa e as uvas. Muitos julgaram-se “sem criatividade” para tal no início, mas depois empolgaram-se e quiseram até ilustrar a nova fábula que criaram.

Vejamos a seguir algumas dessas ilustrações, acompanhadas de seus respectivos textos. Consideremos apenas que são alunos de uma quinta série:













O segundo momento da oficina foi reservado a alguns slides que montei para uma discussão sobre intertextualidade. Minha curiosidade foi, a princípio, saber de minhas colegas como elas trabalham em sala de aula essa questão. A resposta foi unânime, uma vez que todas elas esperam oportunidades nos textos para explorá-la.
Observemos a seguir alguns desses slides:

Intertextualidade com Monalisa, de Da Vinci


Intertextualidade com O Grito, de Munch


Intertextualidade com A Canção do Exílio, de Gonçalves Dias


Outra discussão que não poderia deixar de acontecer diz respeito ao modo como trabalhamos literatura com nossos alunos. A professora Ana Beatriz diz que em sua escola, no bairro Amazonas, só há livros muito infantis, o que dificulta o estímulo à leitura dos que já alcançaram o segundo segmento do ensino fundamental. Já a professora Nágela prefere que seus alunos escolham o livro que querem ler. Ela mostra-se contra a imposição por parte dos professores, já que isso pode levar a um desinteresse muitas vezes sem volta.
A meu ver, não queremos fazer com nossos alunos os que muitos de nossos professores faziam conosco. Muitas vezes, alguns profissionais da área criticam esse desinteresse dos alunos pela leitura, mas são poucos os que assumem sua parcela de culpa nesse processo.
Antes de prosseguirmos com o roteiro a que nos propusemos, discutimos a atividade da p. 147, baseada na seguinte charge de Quino:



Foi um trabalho apenas de debate, baseado nas próprias perguntas da atividade da TP. O propósito era tão somente fazê-las perceber os diferentes comportamentos da várias plateias diante de um Charles Chaplin almoçando o próprio sapato. Procurei orientá-las para que algo semelhante fosse feito constantemente com seus alunos. A falta de maturidade e de experiência com a leitura não lhes permite enxergar o que talvez esteja muito claro para nós, professores.

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